domingo, junho 17, 2007

Hoje, como um dia trivial, porém controverso, fico com idéias inflamadas e minhas glândulas de expressão eriçadas como calafrios de lucidez. Temo que pareça prepotência, mas é muito pelo contrário. É uma autoconfissão da falta de definição da existência. Não é o que muitos chamam crise existencial, mas sim um vão de incertezas que se abrem a cada suspiro de atividade cerebral. Se somos tudo impulso, se todas as células do nosso corpo se regeneram a cada 7 anos... Confuso. É como se ver no espelho e falar que aquilo ali é você, e olhar para uma foto de 10 anos atrás e falar que aquilo ali também é você. É muita coisa desconexa, acho que um empurrão Joyceano nessa stream of consciousness.
Nunca penso em escrever quando me satisfaço em distrações de plástico. Mas penso em escrever quando sei que se escrever, talvez alguma ordem se faça. E acho que nunca se fez. É o caosmos sempre presente.
É o mundo das casacas alugadas.

Ímpeto de viagem e isolamento, com formulação existencialista de pensamento. "Penso, logo existo" porra nenhuma. "Existo, logo penso", isso sim.

*Enchant - Break*

Noite Adentro.

sexta-feira, junho 08, 2007

Feriado de sol e frio. E, num ímpeto de afastar ventos frios internos, me insiro num contexto de muita gente. Programa saudável, cansativo, e no fim do dia, me deixou com uma dor de cabeça descomunal. Mas ainda assim, muito prazeiroso, divertido, feliz. Mas aí, no caminho de casa, ao se despedir de cada um, sabe-se o que é por vir. E isso desanima, apazigua o contentamento, como uma ventania em casa de palha.
O mais frustante disso tudo é a falta de seguir o caminho mais óbvio, dos sábios e dos felizes... de estar contente pelo simples fato de ter tido esse dia.

Complicações são pífias, efêmeras. O caminho da felicidade está na simplicidade. Agora quem disse que é fácil ser simples?

*Stevie Ray Vaughan - Life by the drop*

Noite Adentro.

segunda-feira, junho 04, 2007

Chega a ser irritante a maneira e, mais irritante ainda, a velocidade que as coisas flutuam e pendulam. Em um momento, tudo se encaixa e vejo um prognóstico bom. Mas aí, passa um fim de semana e não tenho mais certeza de nada, como se aquela imagem montada e ideal fosse picotada e transformada num enorme quebra-cabeças onde muitas peças estão por faltar. E como isso incomoda.
Acabo, então, por ficar enfurnado numa série de perguntas de dicionário, sem saber por onde começar e nem por onde terminar. As imagens ficam incertas, embaçadas, até duplicadas, triplicadas, quadruplicadas, como facas de dois, três ou quatro gumes. Eu não sei bem o que dizer nem o que fazer. Fico com medo dessas imagens, mas tem vezes que eu fico feliz por tê-las. A perspectiva muda muito rápido, por influência de um sopro meu de sabe-se lá o que. Aí eu mergulho minha cabeça em mundos que não são o meu.

"Já reparou que a esta hora da noite e a este nível do álcool o corpo se começa a emancipar de nós, a recusar-se a acender o cigarro, a segurar o copo numa incerteza tacteante, a vaguear dentro da roupa oscilações de gelatina? O encanto dos bares, não é?, consiste em, a partir das duas da manhã, não ser a alma a libertar-se do seu invólucro terrestre e a seguir verticalmente para o céu no esvoaçar místico de cortinas brancas das mortes do missal, mas a carne que se livra, um pouco espantada, do espírito, e inicia uma dança pastosa de estátua de cera que se funde até terminar nas lágrimas de remorso da aurora, quando a primeira luz oblíqua nos revela, com implacabilidade radioscópica, o triste esqueleto da solidão sem remédio."

Trecho (Capítulo F, primeiro parágrafo) do livro Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes.

*Dream Theater - Eve*

Noite Adentro.