quarta-feira, dezembro 22, 2010

Clichês

Discordo do clichê que somente em crise é que temos inspiração. Sim, há um tanto de hipocrisia ali, pois muitas das vezes que crio algo, vem de canalização de algum estresse, algum nó de gravata no esôfago, o tubo onde regurgita o refluxo estomacal, que não consegue digerir esse cansaço de homem. A verdade é que a nossa insatisfação é sensata. Somos bixos. Por isso a "felicidade" é tão fugaz - imagine se nós vivessemos num estado de eterna satisfação, em uma aglomeração das mais básicas vontades humanas, entre sexo, comida e bebida; imagine se nós vivessemos assim, numa esbórnia boêmia que tanto se assemelha ao paraíso...
Até me perco ao imaginar.
Enfim. É instintivo. Se assim fossemos nós, estariamos vulneráveis a ataques de possíveis predadores, considerando o fato que somos bixos. Aí ficamos assim, num eterno ciclo de clichês, onde cada novo conselho é a mesma merda que um velho grego escreveu hà 3 mil anos atrás.

Mas eu ainda discordo do clichê.

E vale lembrar: senso comum não quer dizer bom senso.

*Casuarina - Minha Filosofia*

Noite Adentro.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

A arte é interessante. O ofício da arte, nem tanto. Apesar de a arte ter, atualmente, um tom de esnobeza, aquele se vê quando alguém diz com um ar de peido: "Estudo teatro", ou "Sou poeta", e o mais comum "Sou músico"; apesar disso, nem sempre quer dizer que qualquer arte é boa. E acho que aquele que acha maior conceito de si mesmo por apenas praticar o ofício da arte deve ter a personalidade de uma anta no cio. A arte não serve para deixar alguém melhor que outro. A arte não compete. A arte apenas é. Arte formalizada não é arte, arte formalizada é um esporte, como o futebol. Arte formalizada é técnica, como o futebol. Mas a arte de verdade não é isso. Mas quem sou eu, no fim das contas, pra parecer ter a prepotência de definir o que é arte? Poeta? Músico? Teatro mesmo é que não estudo. Até que eu queria, só pra saber fingir um pouco melhor. Isso dá uma música... Ou um poema.

*Sigur Ros - Hoppipolla*

Noite Adentro.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Férias. Período para, no ócio, reorganizar muitas coisas na cabeça. As prioridades, quando não se tem tempo ou disposição para ajeitá-las, se confundem a cada degrau que se sobe ou desce. Engraçado na vida é a fugacidade das suas convicções e incertezas. Elas são quase a mesma coisa, a diferença é que cada uma lhe é mais conveniente no determinado momento. Claro, algumas não são tão flutuantes assim. Mas outras são tão fugazes quanto o sonho bêbado, o sonho que se tem como resultado de uma madrugada de copos persistentemente cheios, embalados pelos papos igualmente vulgares quanto os olhares jogados de lado, à cerveja amarga que é jogada goela abaixo. E o irônico nisso tudo é que, mesmo com essa consciência, defendemos algumas dessas como se fossem os princípios mais fervorosos dentro de cada um, como se o que há entre a palavra e a rendição é mais que apenas um ajolhear-se e deixar que o próximo telejornal lhe diga o que pensar. E o triste disso é que se esquecesse que só se pensa por si só.

*Curumin - Magrela Fever*

Noite Adentro.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Parece que a fluência dos passos, das distintas intenções que temos no decorrer de um mês, de alguns meses, de um ano, ou mais, parece que essa fluência dos passos se tropeça e sobrepõe nas mesmas intenções. Isto é, pouco se tem certeza do que foi dito, o que foi dito se contradiz com o que foi sentido, o que se sente é de uma fugacidade tremenda. O reflexo dessas incertezas, dessa dor de Pessoa, se dá até mesmo, veja só, no corpo, na carne febril que sua suas enfermidades químicas e psíquicas. Essa moleza da febre, que nos envolve em danças de passos ao trabalho, desses passos que não podemos desviar, pois o que nos diz respeito jaz apenas no que podemos ou não podemos fazer. Essa moleza da febre, que nos dá uma impressão diferente do tempo, que só confirma que o tempo é longo para aquele que se vê preso à ele. O tempo é líquido no vômito do bêbado deitado ali, no meio-fio. O tempo é gasoso pro fumante, que sopra tua vida entre teus dedos, no relaxamento prazeiroso de algumas horas a menos de vida. O tempo é sólido apenas para aquele que, envolto de concreto, engole aquelas cápsulas para o rim e outra para o coração, este tão pouco atentado, tão esgotado de trabalho.

*Coiffeur - Feriado*

Noite Adentro.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Semestre passado, eu era estudante e tinha um turbilhão de inseguranças sobre o meu emprego novo. Semestre atual, não sou mais estudante e tenho um turbilhão de inseguranças sobre o meu emprego, e eu mesmo. O tempo que se esvai por entre os dedos de uma criança brincalhona na praia, esse vai e não é mais presente. E o que vejo é areia que cai nos meus olhos, enquanto eu me esbanjo em trivialidades, coisas de plástico onde a produtividade se vai e se mistura como o tecido da verborragia que sangra de nossos lábios diariamente.
E as perguntas se mantêm, sempre. É como Lacan falava...

*Califone - Bottles & Bones (Shade & Sympathy)*

Noite Adentro.

domingo, agosto 26, 2007

É... E cá estou de novo, usando as mesmas sandálias amargas de outrora. Naquele empurrão de foto amarelada, cá estou num dos extremos do pêndulo. Sempre tento me agarrar à algo nos arredores, mas tudo cai ou pendula comigo. Os suspiros funerais de um domingo sempre têm o peso da história e da rotina, e aquela vontade cega de estribuchar o patamar do "homem ideal".

Mesmo que se acostume, ainda há a necessidade intríseca de pôr pra fora o que rege por dentro, e fluir. Queria sair dessa órbita.

*Beirut - Elephant Gun* (Novamente)

Noite Adentro.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Entrei numa contradição comigo mesmo. A sensação de estar no lugar errado está mais forte do que nunca, e o que há de contraditório nisso é que eu almejava tanto este lugar. E pior que, ao racionalizar, não faz muito sentido eu me sentir dessa forma. E ainda assim... Encontro uma resistência enorme de me conformar e me confortar. E me moldar.
As dimensões intimidam. A pressão aumenta. E tudo que eu queria era beber meu café, ler meu livro e rir.
Agora, quase sempre, vou pra cama com um soluço mal-engolido, um sorriso de gengiva inflamada, passe de mágica sem articulação.
Conformismo cego realmente não faz parte da minha personalidade. Vou me conformar com isso.

*Glover Gill & Tosca Tango Orchestra - Super Sport*

Noite Adentro.

terça-feira, julho 10, 2007

No meio desse ócio de canto de boca, aparecem confusões de coisas que... sei lá, a princípio as chamariam de injustas. É frustrante, tudo depende muito da perspectiva e, conseqüentemente, da abordagem. Alguns assuntos precisam de uma abordagem específica, e é difícil discernir qual. Ainda mais frustrante é quando se usa uma abordagem não funcional, e depois vimos qual era a específica, sem chances de poder segui-la.
Não faz muito sentido sem um exemplo prático, mas não estou com paciência de elaborar uma alegoria qualquer para ilustrar este ponto. Talvez não devesse me preocupar demais com esses detalhes. Ora, quem sabe uma hora a perspectiva vai estar certa?
Os orientais estão certos, no que diz respeito ao equilíbrio de tudo. Ou não. Vai saber.

*Beirut - Elephant Gun*

Noite Adentro.

domingo, junho 17, 2007

Hoje, como um dia trivial, porém controverso, fico com idéias inflamadas e minhas glândulas de expressão eriçadas como calafrios de lucidez. Temo que pareça prepotência, mas é muito pelo contrário. É uma autoconfissão da falta de definição da existência. Não é o que muitos chamam crise existencial, mas sim um vão de incertezas que se abrem a cada suspiro de atividade cerebral. Se somos tudo impulso, se todas as células do nosso corpo se regeneram a cada 7 anos... Confuso. É como se ver no espelho e falar que aquilo ali é você, e olhar para uma foto de 10 anos atrás e falar que aquilo ali também é você. É muita coisa desconexa, acho que um empurrão Joyceano nessa stream of consciousness.
Nunca penso em escrever quando me satisfaço em distrações de plástico. Mas penso em escrever quando sei que se escrever, talvez alguma ordem se faça. E acho que nunca se fez. É o caosmos sempre presente.
É o mundo das casacas alugadas.

Ímpeto de viagem e isolamento, com formulação existencialista de pensamento. "Penso, logo existo" porra nenhuma. "Existo, logo penso", isso sim.

*Enchant - Break*

Noite Adentro.

sexta-feira, junho 08, 2007

Feriado de sol e frio. E, num ímpeto de afastar ventos frios internos, me insiro num contexto de muita gente. Programa saudável, cansativo, e no fim do dia, me deixou com uma dor de cabeça descomunal. Mas ainda assim, muito prazeiroso, divertido, feliz. Mas aí, no caminho de casa, ao se despedir de cada um, sabe-se o que é por vir. E isso desanima, apazigua o contentamento, como uma ventania em casa de palha.
O mais frustante disso tudo é a falta de seguir o caminho mais óbvio, dos sábios e dos felizes... de estar contente pelo simples fato de ter tido esse dia.

Complicações são pífias, efêmeras. O caminho da felicidade está na simplicidade. Agora quem disse que é fácil ser simples?

*Stevie Ray Vaughan - Life by the drop*

Noite Adentro.